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jan

A vida emocional dos bebês

A relação entre pais e bebês tem mudado ao longo dos séculos. Se é um fato incontestável que o amor entre eles ultrapassa a história da humanidade, a comunicação entre ambos nunca foi tão valorizada como o é desde os últimos avanços da neurociência, ocorridos nas últimas décadas do século XX.

Durante o século passado, cientistas e médicos preocuparam-se mais com o lado fisiológico do crescimento do bebê e menos com o lado emocional. Por exemplo, segundo acreditava Piaget, grande estudioso do desenvolvimento intelectual humano, os bebês vêm ao mundo somente com alguns reflexos básicos, sendo que o pensamento só surge realmente por volta dos dois anos de idade. Os avanços no estudo da neurociência vieram derrubar esta e muitas outras teorias. E uma das consequências disso foi ter começado a se falar sobre a vida emocional dos bebês de uma forma mais sustentada.

De acordo com a Unidade da Primeira Infância do Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa, se ainda pouco se sabe do ponto de vista emocional, já se sabe mais sobre o que ocorre quimicamente no cérebro do feto e do recém-nascido. Os especialistas defendem que, ao nascer, os bebês já têm mais ferramentas do que se pensava. E que ouvem e vêem antes de nascerem: possuem uma distância focal de 20 centímetros, a distância do mamar para a face da mãe, e mostram reconhecimento da voz humana (da mãe e do pai) à qual foram expostos durante a gravidez.

Antes dos novos dados trazidos pela ciência, era aceito que a arquitetura cerebral estava estabelecida já no nascimento. Mas a ciência provou que, neste momento, o cérebro é bastante imaturo, e que a partir daí e nos primeiros anos de vida há uma explosão das ligações cerebrais.

Do ponto de vista da linguagem também é importante que os bebês comecem a ser expostos desde os primeiros momentos de vida e vários estudos comprovaram que aqueles que vivem em ambientes ricos em linguagem têm um desenvolvimento mais acelerado. O curioso, segundo os especialistas, é que a linguagem que usamos em adultos é adquirida na infância e pré-adolescência, entre os nossos pares. Fato que sugere a existência de oportunidades de reparação durante a vida. Essa capacidade de recuperação, que se estende até a idade adulta, tem que ver com a plasticidade cerebral.

Segundo estudos, na perspectiva da organização neuronal do ser humano, o desenvolvimento emocional do bebê resulta de uma interação entre o próprio patrimônio genético e o meio ambiente em que as crianças se desenvolvem. Há um conjunto de elementos que a prática clínica já estabeleceu como sendo importantes para ajudar os bebês a crescer e que funcionam como condições necessárias para um crescimento saudável. Depois, de acordo com os especialistas, existe mais um fator a levar em conta: o do temperamento da própria criança.